Mariana Conti: formação universitária, início da carreira profissional e as primeiras experiência de luta política
Mariana Conti se aproximava dos tempos de vestibular. A primeira escolha não era Ciências Sociais e sim Engenharia Química, contudo esse desejo cedeu espaço ao ofício de cientista social. Ingressou na Unicamp em 2003, cujo curso era no período integral.Ela estava prestes a completar 18 anos e a sensação de estar em uma Universidade não […]
26 set 2018, 16:56 Tempo de leitura: 8 minutos, 2 segundosMariana Conti se aproximava dos tempos de vestibular. A primeira escolha não era Ciências Sociais e sim Engenharia Química, contudo esse desejo cedeu espaço ao ofício de cientista social. Ingressou na Unicamp em 2003, cujo curso era no período integral.Ela estava prestes a completar 18 anos e a sensação de estar em uma Universidade não se media. A tão sonhada autonomia, a vontade e o ardor pela luta, conduziam-na pelos caminhos ainda desconhecidos da militância e da aprendizagem.
Nesse mesmo ano foi deflagrada a greve contra a Reforma da Previdência, e Mariana já estava na batalha por direitos. Embora a vontade de participar efetivamente dos debates só aumentava. Como estudava durante o dia e ainda morava em Americana, realizava esse percurso todos os dias, todavia, os papos e discussões sobre movimento, Política, além de aulas e atividades, ocorriam à noite. Sua mãe dizia que aquilo era vida de nômade. Era a estudante de Ciências Sociais e sua mochila. Por isso, Mariana começou a buscar formas de fixar-se na região, com a renda de um emprego de estagiária no Centro de Estudos da Opinião Pública (CESOP). Ao tocar no assunto, autonomia e independência, um desconforto sob à face. Gestos mais rápidos, misturados à ansiedade e um pouco de receio. Uma percepção do caminho e do esforço para construí-lo.
A aproximação das lutas estudantis, trouxeram à futura socióloga, o contato com os movimentos feministas. As ideias de empoderamento, as lutas, a organização das mulheres por Direitos. Entender e sentir, com coragem e liberdade, a força da mulher de construir um mundo mais justo e digno. Desde 2003, nas lutas dentro e fora da Universidade, participou de inúmeras atividades, atos, debates e reivindicações. A Democratização da universidade pública, o direito pela terra, contra a retirada de direitos trabalhistas. Atuou na coordenação do DCE – UNICAMP, entre 2004 e 2007, em lutas sobre o Bandejão, pela moradia estudantil, passe livre, contra o sucateamento da educação pública, pela paridade dos órgãos colegiados, pela criação de cotas para a população negra. Também participou do coletivo estudantil, Domínio Público, cujas pautas, LGBTI, Mulheres, Negros, Democracia e qualidade na Educação, eram debatidas e defendidas. A Universidade é um espaço da diversidade, as várias caras e cores, sobretudo, respeito e tolerância. “O DCE me trouxe maturidade, foi uma escola da política”, e o feminismo enquanto um valor, pelo qual se luta, pela emancipação da mulher”, comenta Mariana. “Nesse percurso da minha vida, passei a reivindicar o protagonismo, as conquistas que se dão pelo enfrentamento e resistência, de ocupar todos os espaços. Participei de um coletivo feminista, que organizava a luta, o Rosa Lilás. Que além de fortalecimento das mulheres, a importância de combater quaisquer formas de assédio, violência, opressão, que viesse a aflorar no ambiente universitário”.
Em 2006, Mariana Conti entra no PSOL. O contexto era de intensas lutas, na iminência de reformas, escândalos como o mensalão. Em virtude de tantas contradições na conjuntura, para ela, havia a necessidade de um partido coerente, preocupado fundamentalmente com a população e pela luta por Direitos. Um instrumento da resistência, pelo Socialismo e pela Liberdade. Algum tempo mais tarde participara do coletivo Rosa do Povo, nome em alusão ao livro de Drummond. Entretanto, com o avançar das reivindicações e do crescimento da unidade e das pautas, participou da construção da corrente partidária, o 1 º de Maio, do qual faz parte e atua.
A socióloga inicia sua vida profissional depois de formada, nas salas de aula. Nelas, então como professora, aprendeu muito com os estudantes, das histórias e experiências que carregam, da vontade de aprender. Sentia-se desafiada no sentido de acreditar que é possível, uma transformação profunda e justa na educação. Lá, no ambiente escolar, teve contato direto com a precariedade de salários e condições das categorias de professores temporários, tão desrespeitados pelo governo tucano.
Admitida em um concurso público, passou a trabalhar na Unicamp, em 2010. Na Secretaria Geral de Graduação da Engenharia Agrícola, com relação direta com estudantes e administração.
Mariana sempre esteve preocupada com uma profissão que faça sentido, que aquilo que faça possa colaborar de maneira criativa. Embora, não mais diretamente no DCE, à época das lutas estudantis, as pautas reivindicatórias continuavam, por exemplo, como a isonomia salarial, em relação à USP e à Unesp, e contra a ‘autarquização’ do Hospital das Clínicas.
Nesse período decidiu percorrer o caminho da pesquisa. Ela conta que conciliar o emprego da Unicamp com a realização do mestrado foi um trajeto bem árido. Em virtude da falta de flexibilidade de horários, mas nesse caso ela recebeu total solidariedade dos companheiros de luta, para finalizar a sua dissertação sobre o grande sociólogo Florestan Fernandes, com o tema “Imperialismo e Luta de Classes na Era do Capital Monopolista”. Para Mariana Conti, Florestan é um autor profundamente preocupado com a realidade brasileira, uma militância focada em construir conhecimento acerca da realidade real e concreta. Não é alguém desconectado da conjuntura, mas profundamente impregnado dela, a teoria como instrumento da luta. A práxis revolucionária.
E da sua contribuição teórica ela é categórica: “Pouco se fala de Imperialismo, mas como dizia Florestan a burguesia sempre se articula com os interesses externos do Capital, ela é sua porta voz, a porta de entrada dos interesses exploratórios”.
Em sua dissertação, há duas pessoas homenageadas, pelas quais Mariana confessa a profunda admiração. Uma delas familiar, sua Inspiração, o avô materno, Marconi Costa Conti, um visionário, rebelde por convicção, um homem de esperança. Ele gostava de literatura, poemas. Não podia ver uma discussão política, que estava no meio. Apresentou à neta, o poema, O guardador de rebanhos, de Fernando Pessoa, seu livro preferido. Mariana o acompanhou em muitas atividades, ouvia suas histórias, sobre tantos episódios. Em 2007, quando ela finaliza sua graduação, seu avô não estaria fisicamente presente, mas seu carinho e convicções sempre Mariana carregaria em sua luta pela justiça.
No ambiente da política, Plinio de Arruda Sampaio, histórico e combativo militante, ensinou-lhe muitas coisas sobre a vida pública, o respeito ao Bem Comum. “Ele era de uma sabedoria incrível, nos falava sobre a importância das tarefas e organização da militância. Como fazer a luta”. Plinio, um exemplo de coerência e comprometimento com o povo.
A trajetória eleitoral aconteceu ainda na época da faculdade. Entre o coletivo do qual participava, Mariana foi escolhida como representante e para a disputa das eleições em 2008.
Nesse pleito ela teve 1772 votos. Com essa disputa, o grupo se fortaleceu e manteve-se firme, o começo de um grande aprendizado. Porta a porta. Pés no chão, a construção de um mandato, verdadeiramente popular. Em 2010, tivemos muito contato com a eleição do deputado estadual do PSOL e do 1º de maio, Raul Marcelo. Segundo ela, “um mandato de inspiração e credibilidade”. As eleições de 2010, Mariana tentou a vaga para deputada federal, com 3133 votos. E o empenho e comprometimento da militância só aumentava.
O acúmulo de forças, a alternativa pela resistência, aproxima o coletivo da eleição de 2012, um gosto de dever cumprido, sem, no entanto, ganhar nas urnas. “Tivemos 5953 votos, ficou aquele sentimento, na população de injustiça, pela campanha e lutas que travamos”.
Nesse intervalo, as reivindicações não paravam. Manifestações contra as transposições e barragens, contra as privatizações e sucateamento da educação. O ano de 2013, as jornadas de junho, a demanda reprimida de contestação social, contra o aumento das tarifas de transporte, contra o investimento sem retorno nos estádios para a Copa do Mundo, contra a corrupção. Em 2014, em uma conjuntura de instabilidade e conflito, Mariana teve 16914 votos para deputada federal.
Enfim, a vitória nas urnas e nos corações. 2016 com credibilidade e confiança, ela chega à Câmara de Campinas. A semente semeada em 2008, germinou. A quarta vereadora mais votada nessa eleição, a 15º na história da cidade e a mulher mais votada até então.
Na primeira sessão do ano, em 2017, segundo Mariana Conti, “estava lotada de mulheres, ocupando o espaço público, e realizei o primeiro discurso repudiando e denunciando o feminicídio que acontecera naqueles dias”. Para ela, é importante desmontar de cima para baixo as estruturas conservadoras e de baixo para cima com a força do povo. “Nem tudo, tem de ser resolvido na caneta. Queremos participação e estamos aqui para fazer a diferença, não simplesmente uma voz isolada em uma Câmara de 32 vereadores, mas um mandato responsável e coletivo”.
Na apresentação de Mariana, na página da Câmara, em seu perfil, um poema, de Bertold Brecht “do rio que tudo arrasta se diz que é violento, mas ninguém diz violenta as margens que o comprimem”, já prenuncia contra quais estruturas de opressão e poder, que o mandato trabalhará. Ao longo de 1 ano e 9 meses de atuação, entre indicações, moções, requerimentos e projetos, são mais de 300 atividades parlamentares. Assim como inúmeras Campanhas, atos e manifestações, debates durante esse período.