Global Sumud Flotilla, uma missão vitoriosa!

Tenho muito orgulho da minha participação na missão da Global Sumud Flotilla, a maior missão humanitária já feita para levar ajuda ao povo palestino, e que, apesar de não ter cumprido o seu principal objetivo, foi muito vitoriosa. Outras flotilhas virão! E seguiremos em luta até que a Palestina seja livre, do Rio ao Mar!

12 nov 2025, 13:58 Tempo de leitura: 3 minutos, 23 segundos
Global Sumud Flotilla, uma missão vitoriosa!

Tenho muito orgulho da minha participação na missão da Global Sumud Flotilla, a maior missão humanitária já feita para levar ajuda ao povo palestino, e que, apesar de não ter cumprido o seu principal objetivo, foi muito vitoriosa.

Participar da flotilha foi uma experiência contraditória. Por um lado foi incrível o sentimento de estar atuando no centro da disputa da geopolítica mundial, com protagonismo real — e ter contribuído para a mudança no tabuleiro geopolítico mundial que levou ao recuo por parte de Israel no projeto de solução final. Por outro lado, essa missão teve aspectos horrorosos, como o nosso sequestro por parte de Israel e os vários dias que passamos nas masmorras sofrendo violências, principalmente psicológicas. Violências essas que não chegam nem perto daquilo que os palestinos passam nessas mesmas celas em que estivemos, mas que precisam também ser denunciadas.

O objetivo principal da nossa missão era levar comida, remédios, fórmulas infantis e próteses para o povo palestino. A missão foi interceptada ilegalmente por Israel, nossos barcos e os mantimentos de ajuda humanitária foram roubados. Nada de novo por parte de um estado terrorista, cujos líderes já foram condenados e tem mandados de prisão expedidos pelo Tribunal Penal Internacional.

Essa não foi a primeira tentativa de levar ajuda humanitária ao povo palestino, nem será a última. As flotilhas já acontecem há mais de 17 anos. Mas essa missão foi inédita pelo seu tamanho. Foram mais de 43 barcos, mais de 500 ativistas, a participação de voluntários de 44 países — uma coalizão internacional que mostrou que o internacionalismo não é teoria: ele é um método real, concreto e material de luta. Além disso, a flotilha condensou algo que a nossa geração não tinha vivido: um sentimento de luta comum internacional.

Nossa missão trouxe luz ao genocídio do povo palestino em Gaza, rompendo assim com o cerco midiático, e desencadeando esse processo de mobilização histórico. E a flotilha só funcionou por causa dessa mobilização global. O mundo árabe estava em ebulição e também a Europa. Na Espanha, portuários se recusaram a tocar em cargas vinculadas a Israel. Na Itália houve greve geral e o governo italiano foi obrigado a dar uma resposta. Até o Vaticano teve que se manifestar. No Brasil os acampamentos da juventude tensionaram, junto aos servidores e docentes das Universidades pelo rompimento das relações com as universidades israelenses, esse rompimento aconteceu na Unicamp, minha universidade, mas também em várias outras por todo o país.

Outra vitória importante da missão da Global Sumud Flotilla foi o fato de que enquanto o exército israelense estava ocupado interceptando ilegalmente os nossos barcos (foram várias horas de perseguição até que todos fossem capturados), o povo palestino pode pescar. Ou seja: apesar de a comida que estávamos levando não ter chegado às praias de Gaza, por conta da nossa missão, os próprios palestinos puderam obter seus alimentos. Foi emocionante assistir às cenas dos palestinos pescando.

A Palestina é hoje a forma mais explícita do colonialismo moderno, militarizado, racista e altamente armado, é o laboratório desse projeto da extrema direita neofascista, que é um projeto internacional de dominação dos povos. É também o laboratório onde são desenvolvidas tecnologias bélicas para o controle e massacre dos povos. As armas que matam o povo palestino são depois exportadas para todo o mundo, aqui no Brasil, matam a juventude negra e periférica. A resistência do povo palestino nos ensina a resistir aqui também, em nosso país: ao racismo, ao colonialismo, à destruição ambiental e à extrema-direita. Devemos seguir nos solidarizando com os palestinos, mas também aprender e nos inspirar na luta deles.

Outras flotilhas virão! E seguiremos em luta até que a Palestina seja livre, do Rio ao Mar!