Se muito vale o já feito, mais vale o que será!

Nos próximos dias deste ano, chegamos ao fim de nosso mandato como vereadora da cidade de Campinas. Assumimos, em 2021, com grande responsabilidade, afinal, nossa candidatura se consagrou como a mais votada daquela eleição. Além dessa grande responsabilidade, o mundo vivia uma das maiores crises sociais e sanitárias dos tempos, a pandemia de COVID-19. No […]

30 dez 2024, 17:07 Tempo de leitura: 7 minutos, 14 segundos
Se muito vale o já feito, mais vale o que será!

Nos próximos dias deste ano, chegamos ao fim de nosso mandato como vereadora da cidade de Campinas. Assumimos, em 2021, com grande responsabilidade, afinal, nossa candidatura se consagrou como a mais votada daquela eleição. Além dessa grande responsabilidade, o mundo vivia uma das maiores crises sociais e sanitárias dos tempos, a pandemia de COVID-19.

No Brasil, não é novidade que, além de enfrentar o coronavírus, tivemos que lutar contra o genocida e golpista Jair Bolsonaro e sua corja de golpistas e negacionistas. Diante desse cenário, com muita combatividade, nosso mandato foi porta-voz no combate ao negacionismo, em defesa da ciência e da garantia de dignidade para o nosso povo. Em Campinas, iniciava o governo de Dário Saadi, continuidade de um grupo que governa a cidade há 12 anos.

O primeiro governo de Dário, que se encerra no dia 31/12, aprofundou as desigualdades e a violência em nossa cidade, precarizou ainda mais os serviços públicos e sequestrou o orçamento público, seja para empresas contratadas pela prefeitura ou pelos inúmeros cargos comissionados, que servem mais a interesses pessoais do que ao bem da população de Campinas. Vendeu nosso meio ambiente para a especulação imobiliária, o que ameaça nosso futuro e aumenta as graves consequências de eventos climáticos extremos.

Combatemos, aqui em Campinas, os representantes da extrema-direita. Realizamos a primeira CPI Antifascista do Brasil para investigar o aumento de episódios de violência nazifascista e racista. A iniciativa foi motivada por uma série de incidentes, incluindo pichações com símbolos nazistas no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp e um ataque armado a um bar próximo à Moradia Estudantil, perpetrado por um grupo de neonazistas.

O documento que embasou o pedido da CPI também mencionou um histórico de casos semelhantes em Campinas e na região, além de dados alarmantes de uma pesquisa conduzida pela antropóloga Adriana Dias, que apontou um crescimento de 270,6% nas células neonazistas no Brasil entre 2019 e 2021. O objetivo da CPI foi investigar as causas desse crescimento, identificar os responsáveis, cobrar ações das autoridades competentes e propor políticas públicas que impeçam o avanço desses grupos e novos recrutamentos.

Neste período, conseguimos uma importante vitória: derrotamos Bolsonaro e elegemos Lula presidente. Longe de resolver o cenário de múltiplas crises que vivemos, essa conquista democrática foi fundamental para desmantelar um projeto de país que ceifou milhares de vidas, destruiu os serviços públicos e aprofundou a violência e a miséria em nosso país. Nosso mandato e o PSOL estiveram na linha de frente dessa importante conquista para toda a classe trabalhadora.

Logo no começo do ano, fomos às ruas contra uma tentativa de golpe de Estado e para ecoar: SEM ANISTIA PARA OS GOLPISTAS! Foi essa pressão popular que garantiu que, contentes, assistimos à prisão do primeiro membro das Forças Armadas, de quatro estrelas, por envolvimento na tentativa de golpe. E seguimos lutando para que Bolsonaro e todos os golpistas sejam levados à prisão!

A defesa dos trabalhadores é um dos princípios da nossa atuação, por isso destacamos aqui algumas iniciativas em defesa do nosso povo, como a Frente Parlamentar de Enfrentamento às Violências Relacionadas ao Trabalho, em conjunto com o Instituto Walter Leser, o Cerest Campinas, sindicatos e entidades de luta no combate à violência do trabalho. Além dos importantes debates suscitados em nossa frente parlamentar, avançamos em conquistas, como a criação de um canal de denúncias de violências relacionadas ao trabalho no 156, organizado pelo CEREST Campinas. Também elaboramos material para distribuição entre os trabalhadores e realizamos um curso de capacitação para os atendentes do 156, para que compreendam melhor sobre o tema.

A defesa do meio ambiente foi outra linha fundamental deste mandato. Além de denunciarmos os processos de devastação em curso na cidade, que aumentaram significativamente a área urbana e potencializam as consequências nefastas de eventos climáticos extremos, cobramos ações para mitigar os impactos da emergência climática e combatemos o negacionismo disfarçado de verde da Prefeitura de Campinas. Destaco aqui nossa atuação em defesa das brigadas populares e por iniciativas de proteção da nossa fauna e flora. Nesse sentido, propomos a CPI da Água e do Clima, que foi negada pela base do prefeito.

Inspirada nos movimentos sociais e tribunais populares, fundamos a Comissão Popular da Água e do Clima, que busca investigar, responsabilizar e julgar. Não podemos ignorar os dados alarmantes: 2,3% da população não tem acesso a água potável, e sérias contaminações afetam nossos rios e córregos. É hora de agir. É hora de responsabilizar aqueles que contribuíram para esta situação de emergência.

Por isso, nosso mandato, junto aos movimentos ambientalistas, criou a Comissão Popular de Inquérito da Água. Precisamos investigar, apurar e entender por que alguns poucos lucram tanto para destruir a natureza, um bem de todos.Foi também nesta legislatura que enfrentamos o PIDS-HIDS, um projeto da especulação imobiliária e da Prefeitura que devasta o nosso meio ambiente, agrava a crise social e, ao mesmo tempo, precariza os serviços públicos da cidade. Toda a tramitação atropelada do projeto evidenciava a intenção do governo de aprovar esse verdadeiro retrocesso ainda neste ano. Contudo, diante de muita pressão dos movimentos e da atuação da bancada de esquerda, conseguimos atrasar a aprovação dessa lei, que pode impermeabilizar milhões de metros quadrados da nossa cidade.

Estivemos na linha de frente no combate ao “Dário Motosserra”, que não poupou esforços para ceifar as árvores urbanas de Campinas. As consequências dessa política negacionista são o descontrole térmico e a formação de ilhas de calor na cidade, sobretudo nas periferias. O meio ambiente não esteve protegido na primeira gestão de Dário, e o que se desenha para o futuro indica mais ataques.

O fortalecimento da extrema-direita a nível mundial ganha novos elementos com a vitória de Trump. O genocídio étnico promovido por Israel contra o povo palestino segue com a conivência das maiores potências mundiais, que intensificam seus arsenais bélicos. A eclosão de guerras pelo mundo sinaliza um período que exige de nós muita luta e organização.

Nós precisamos resistir e avançar! Em 2024, Campinas somou-se à Marcha pela Justiça Climática, um potente ato de rua que denunciou as políticas destrutivas ao meio ambiente e cobrou medidas de emergência para mitigar as consequências da crise climática. Também realizamos uma série de atividades e manifestações denunciando o genocídio promovido por Israel e reafirmando a solidariedade ao povo palestino: por uma Palestina livre!

É impossível realizar uma retrospectiva deste mandato sem citar a força imparável do feminismo. A extrema-direita tentou retroceder nas formas legais de realização do aborto com o PL 1904, conhecido como o “PL do Estuprador”. Imediatamente, mulheres de todo o país ocuparam as ruas e enterraram esse projeto de controle dos nossos corpos. Essa mesma força das ruas se fez presente no ato contra a escala 6×1, que tomou conta de todo o Brasil. Em Campinas, fomos às ruas contra essa escala que condena milhões de trabalhadores a jornadas exaustivas e os priva do direito à vida para além do trabalho. Foi com muito entusiasmo que vivenciamos a primeira greve no Brasil contra a escala 6×1, protagonizada pelos trabalhadores da Pepsico.

Depois de seis anos do brutal assassinato de Marielle Franco, a justiça finalmente julgou os assassinos e assistimos à prisão dos mandantes que tentou calar a voz da nossa companheira. A luta por justiça continua para que o legado de Marielle siga vivo.

Termino esta mini retrospectiva com o mesmo sentimento do título: fizemos muito até aqui! Enfrentamos os poderosos, defendemos e avançamos nos nossos direitos. Aqui, relembrei algumas das tantas atividades, manifestações, reuniões e ações desses últimos quatro anos. Foram muitas conquistas! Esse reconhecimento e confiança foram expressos nas urnas: novamente fui eleita pelo povo campineiro como a vereadora mais votada, com 14.356 votos. Assim, nosso combativo, necessário e agora mais experiente mandato segue sendo uma ferramenta de luta para o povo de Campinas. Por isso, mais vale o que será, e juntos e juntas podemos muito mais!

Feliz Ano Novo!
Mariana Conti